Resenha do livro Crash: uma breve história da economia (publicado em 2019 – 3ª versão), de Alexandre Versignassi, jornalista e diretor de redação da revista Superinteressante, finalista do Prêmio Jabuti, vencedor quatro vezes do Prêmio Abril de Jornalismo.
Numa viagem ao longo do tempo, Alexandre Versignassi aborda uma série de temas interessantes, como o funcionamento da moeda, a inflação, o papel dos governos no gerenciamento do dinheiro em circulação, o surgimento da bolsa de valores, criptomoedas etc. Em linguagem dinâmica e divertida, o livro traz inúmeras histórias e curiosidades, veja algumas delas a seguir.
Encontrei neste livro muitas respostas sobre a origem do dinheiro e seu valor intrínseco na sociedade. O autor faz um paralelo entre acontecimentos históricos da economia e a atualidade. Trata das maiores crises que a humanidade já enfrentou e como conseguimos superá-las. E claro, como não falar das bolhas?
Para familiarizar o leitor, as bolhas acontecem quando a venda de algum produto ou mercado cresce desproporcionalmente. Os preços sobem tanto a ponto de causar uma euforia no mercado e as pessoas passarem a comprar simplesmente por achar que mais na frente algum outro “eufórico” vai aparecer e pagar mais caro. Só que as pessoas eufóricas também são um recurso limitado, ou seja, chega uma hora em que ninguém mais se interessa em comprar e a bolha estoura. Com isso, as pessoas se desfazem do ativo, causando uma queda grande nos preços e gerando uma crise, o famoso “Crash” (queda abrupta de valor).
Na Holanda, no século 17, “floresceu” o mercado de tulipas, quando os endinheirados da Europa começaram a apreciar a flor e a pagar preços exorbitantes por ela. Já havia até contratos que davam direito de comprar as flores que iriam nascer no futuro. O mercado cresceu tanto que um bulbo chegou a ser negociado pelo mesmo preço de uma casa em Amsterdã, o equivalente a R$ 800 mil.
Até o momento em que não havia mais compradores a fim de pagar tão caro por uma flor e, para piorar, descobriram um monte de fraudes: os floristas estavam vendendo mais contratos do bulbo da flor do que tinham em estoque. Em resumo, a bolha estourou, e quem tinha investido todo o seu dinheiro nesse mercado se viu com as calças na mão de uma hora para a outra.
A história se repete, mas nem sempre aprendemos a lição. O mercado imobiliário, em 2008, cresceu muito, e o interesse por rendimentos de hipotecas deu origem a uma imensa estrutura financeira para negociar esses ativos no mercado.
Com a maior oferta de casas, elas começaram a cair de preço. Quem havia financiado sua casa viu seu preço desvalorizar. Logo, não compensava mais pagar tão caro pelo imóvel, assim os calotes começaram a aumentar e as instituições precisavam leiloar as casas, que, por sua vez, continuavam a cair de preço. A situação ficou insustentável. As instituições bancárias começaram a quebrar, e uma delas foi o famoso banco Lehman Brothers, o que desencadeou uma crise complexa, com efeitos não só nos EUA, mas no mundo inteiro.
O Bitcoin surgiu de um movimento revolucionário: criar uma moeda global que não fosse emitida por governo nenhum e que não dependesse dos bancos para circular. A filosofia por trás da invenção das criptomoedas tem sua beleza, mas a criptomoeda ainda não vingou, pois ainda não caiu no gosto do comércio como meio de pagamento, e, se as pessoas não aceitam determinada coisa em troca de bens e serviços, ela não vale nada.
Muito do interesse no Bitcoin é especulativo, de quem compra hoje com a intenção de vender mais caro no futuro. É difícil saber o que acontecerá, mas, se em 2017 ele chegou a ser negociado a quase US$ 20.000, terminou 2018 cotado a cerca de US$ 4.000. Você teria fôlego para tudo isso?
É um assunto polêmico, mas como disse Warren Buffet, o maior investidor da história, numa entrevista em 2019: “É uma ilusão, o Bitcoin não vale nada”. Mesmo assim, o Bitcoin ainda recebe atualizações e a criptomoeda continua a ser a mais relevante entre tantas alternativas, segundo o autor.
No decorrer do livro são mencionados vários investidores, como George Soros (o homem que quebrou o Banco da Inglaterra), Naji Nahas (o especulador que quebrou a bolsa do Rio), Eike Batista, Billy Durant (criador da General Motors), entre outros. Vemos a história e as lições de vida de Warren Buffet, que, mesmo com seus US$ 82 bilhões na mão, continua morando na mesma casa que comprou em 1958 (o imóvel vale US$ 650 mil).
Buffet tem como estratégia só comprar ações que rendem dividendos gordos e de empresas bem estabelecidas no mercado. Ele aconselha: “Compre suas ações como se a bolsa fosse ficar fechada por dez anos”, em outras palavras: nada de caso rápido, procure um namoro firme e, se possível, um casamento – estatisticamente, quanto mais um investidor troca de papéis maior a tendência de perder dinheiro.
Diante de tantos fatos históricos, percebemos que existe uma relação entre eles, pois economia não é só uma ciência exata, ela também é humana. Ou com um nome mais bonito: “neuroeconomia”.
Como o autor adverte no último capítulo: “Se tentar copiar as táticas de Warren Buffet, você pode arruinar a sua vida”, pois, para identificar qual investimento é apropriado ao seu nível emocional de risco de perda, é necessário um time de especialistas na área.
Este livro vai ajudá-lo muito em suas decisões, vai ligar o sinal de alerta para novas empresas com promessas vazias, para excesso de euforia do mercado, para evitar que faça besteiras nos investimentos e para que aprenda muito sobre economia de forma gostosa de ler.