A Taxa Referencial (TR) foi criada há mais de 30 anos e ainda pode impactar, diariamente, a vida de todos os brasileiros. Apesar de sua presença no nosso dia a dia, muitos não a conhecem ou sabem como ela funciona.
Entender a TR e suas principais características é importante para investidores, empreendedores e consumidores de forma geral. Assim, conhecer essa taxa fará com que as decisões de aportes e sua relação com o dinheiro sejam mais embasadas.
Quer saber como a TR funciona, o seu objetivo e seus impactos na rotina dos brasileiros? Então acompanhe esse guia completo sobre a Taxa Referencial!
A Taxa Referencial, mais conhecida como TR, é um índice financeiro que já funcionou como um parâmetro central para os juros praticados no Brasil. Apesar de não ser mais usada com esse objetivo, ela ainda é aplicada para a correção monetária em diversas áreas.
Então, para entender o que é a TR, é preciso que você conheça o que é a inflação e a correção monetária. Saiba a seguir:
A inflação é a variação do preço de bens e serviços consumidos pela população em geral. Dessa forma, é comum que produtos e serviços tenham um aumento de preço com o passar do tempo. Isso acontece por diversos motivos.
Por exemplo, demanda, pressões de custos, gastos públicos exacerbados etc. Por conta da inflação, o dinheiro perde o seu poder de compra constantemente. Nesse sentido, basta pensar no que você conseguia comprar com R$ 100 cinco anos atrás e o que consegue comprar hoje.
Com certeza os R$ 100 atualmente valem menos, não é mesmo? Isso acontece pela inflação: como os preços sobem frequentemente, produtos e serviços ficam mais caros e demandam mais dinheiro. Por isso, é ideal que a inflação seja baixa e constante, trazendo mais previsibilidade.
Nesse cenário, é fundamental que o dinheiro também mantenha seu poder de compra, valorizando com o tempo em patamar igual ou superior à inflação. É aqui que a correção monetária se torna relevante.
Ela diz respeito a um alinhamento do poder de compra da moeda em relação à inflação. Ou seja, é preciso que salários, investimentos e outras formas de rendimento cresçam com o tempo, para que as pessoas não percam seu potencial de arcar com os custos rotineiros.
É nesse sentido que o Governo institui taxas básicas de juros. Elas são parâmetros de atualização monetária utilizados nas principais aplicações financeiras. As taxas também podem ser aplicadas a salários, remunerações e outras áreas.
Agora que você sabe o que é TR, inflação e correção monetária, é preciso entender o contexto em que essa taxa foi criada. No início dos anos 1990, o Brasil sofria com a chamada hiperinflação — um fenômeno financeiro em que o aumento de preços chegava a 2000% ao ano.
Como você deve imaginar, a hiperinflação é extremamente nociva para a economia de um país. Essa grande variação diária de custo de produtos e serviços traz instabilidade, rápida defasagem de poder de compra de salários e remunerações, entre outros problemas.
Dessa maneira, em 1991, o então presidente Collor e seus economistas criaram a TR. A taxa referencial surgiu como uma forma de facilitar a atualização monetária para acompanhar a inflação galopante do período.
Como você viu, a inflação na época em que a TR foi criada era extremamente volátil. Portanto, era muito difícil realizar uma atualização monetária de acordo com a realidade. Em uma economia com inflação de 2000% ao ano, diariamente os preços são ajustados em mais de 5%.
Então a ideia da TR era proteger o poder de compra da moeda, no caso o Cruzeiro, frente à inflação. Ela era calculada diariamente e ao final do mês havia um valor acumulado da inflação, que servia como taxa básica de juros para atualização monetária.
Como a TR refletia as variações da inflação de forma precisa, o poder de compra era preservado. Pelo menos essa era a ideia. Para fins informativos, a TR teve seu pico histórico em 1994 — quando atingiu 2474% no ano.
No entanto, a taxa referencial não ajudou efetivamente a controlar a inflação, que continuou muito alta. Logo, foi criado o Plano Real. Dessa maneira, em julho de 1994 a moeda brasileira mudou para a atual e a hiperinflação foi manejada.
Atualmente, a TR serve apenas como uma taxa de juros — mas não é mais a oficial brasileira. Como você deve saber, a taxa Selic exerce esse papel no momento, sendo calculada e divulgada pelo Banco Central (BC) como atualização padrão.
No entanto, a TR ainda é utilizada como parte da atualização em diversas áreas, então ainda pode haver reflexos para os brasileiros. Entenda a seguir os principais contextos nos quais ela se encontra presente:
A poupança é uma das aplicações mais conhecidas entre os brasileiros. É geralmente nessa alternativa que muitas pessoas guardam seu dinheiro, ainda que a sua rentabilidade seja bem inferior a outros títulos de renda fixa.
A TR influencia até hoje os rendimentos da poupança, tendo em vista que o cálculo dos juros aplicados utiliza diretamente a taxa. Nesse sentido, há duas formas de atualização da poupança, veja só:
Os títulos do Tesouro Direto são investimentos de renda fixa disponibilizadas pelo Governo Federal. Eles representam dívidas do Tesouro Nacional, em que o investidor faz a aplicação e recebe uma rentabilidade combinada.
Nesse cenário, a TR já foi utilizada como indexador desses títulos, que eram os conhecidos NEN-H e NTN-P. A rentabilidade dessas alternativas era atrelada à TR, servindo como uma remuneração aos investidores.
Eles foram descontinuados e não estão mais disponíveis, de modo que a TR não influencia novos títulos. Porém, investidores que fizeram aplicações de longo prazo ainda podem tê-los em sua carteira de investimentos.
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é um benefício dos empregados de carteira assinada. Ele é uma conta vinculada ao trabalhador em que, mensalmente, há uma quantia depositada pelo empregador relativa a 8% das verbas salariais.
O saque só é permitido em situações específicas que constam na legislação trabalhista, como a rescisão contratual ou a aposentadoria. Dessa maneira, os valores depositados precisam ser corrigidos monetariamente para não perder poder de compra.
Até o ano de 2017, essa correção era de 3% ao ano mais a TR. A partir dessa data, o cálculo foi alterado para incluir mais 50% dos lucros do FGTS no ano anterior, distribuídos proporcionalmente ao depósito em conta.
A TR também pode ter influência nos contratos de financiamentos imobiliários realizados pelo Sistema Financeiro Habitacional (SFH). Dessa maneira, todos os negócios realizados por essa modalidade precisam contar com juros fixos definidos pelo banco mais a TR.
Ela serve para corrigir monetariamente o saldo devedor do contrato, sendo aplicada anualmente sobre as parcelas vincendas. Vale ressaltar que, até 2017, todos os contratos de financiamento também aplicavam a taxa referencial, sendo do SFH ou não.
Os títulos de capitalização são tipos de investimentos geralmente oferecidos por bancos tradicionais. Eles também podem envolver a TR, tendo em vista que a rentabilidade está indexada nessa taxa ou à poupança.
A TR tem uma fórmula de cálculo utilizada pelo Banco Central. Dessa maneira, a instituição publica diariamente os valores da taxa. Contudo, é importante conhecer como esse cálculo funciona, para entender suas variações.
Primeiro, é preciso chegar ao valor da Tarifa Básica Financeira (TBF). Essa taxa baseia o seu valor na média ponderada dos juros pagos pelas Letras do Tesouro Nacional (LTN) e também é informada diariamente pelo BC.
Com esse valor, é preciso calcular o Redutor, pela seguinte fórmula:
R = a + b x TBF
Entenda cada variável:
Sabendo o R é possível aplicá-lo à fórmula final da TR, que corresponde à seguinte equação:
TR = 100 x {[(1 + TBF / 100) / R] – 1}
Então aplicando os valores divulgados a essa fórmula será possível encontrar a média final da TR todos os dias.
Além de divulgar essa informação diariamente, o BC também disponibiliza a Calculadora do Cidadão. Com ela é possível calcular a TR em diferentes períodos, inclusive entendendo como ela influenciaria determinado valor a ser corrigido na época.
Também é importante saber que a TR pode ser calculada de forma diária e mensal, sendo que esses valores são utilizados de forma diferente. Confira!
A TR é calculada diariamente pelo BC. Ela utiliza como base a Tarifa Básica Financeira daquele dia para o seu cálculo. Depois, serve para embasar a TR mensal, como você verá adiante.
A TR mensal é o valor acumulado das TRs diárias de um determinado mês. Esse valor é utilizado para as correções de financiamentos, FGTS, poupança e títulos do Tesouro Nacional que ainda envolvem a TR.
Com todas essas influências nas finanças do brasileiro, é comum querer saber qual é o valor da TR em 2021, não é mesmo? Nesse sentido, a notícia pode ser ruim para muitos investidores: desde 2017 até o momento de publicação deste conteúdo, em agosto de 2021, a TR está zerada.
Ou seja, mês a mês, desde outubro de 2017, a fórmula da TR retorna um resultado igual a zero ou negativo. No entanto, por uma disposição do Banco Central, essa taxa nunca pode ser inferior a zero, então ela é nula desde então.
Como você percebeu, o cálculo da TR considera a Taxa Básica Financeira do dia — que, por sua vez, reflete a média dos juros pagos pelos títulos públicos. Ademais, é aplicado um redutor a essa média, o que diminui ainda mais seu valor.
Dessa maneira, se a taxa básica de juros brasileira está com um valor baixo, a TR será ainda menor. Como a Selic estava em patamar bem alto entre 2015 e 2017, e não o retomou, é comum que os juros pagos em títulos do Tesouro também sejam mais baixos do que naquela época.
Com esse cálculo e, aplicando o redutor, a TR apresenta valores negativos desde 2017. Isso porque esse foi o período em que se iniciaram as baixas significativas da Selic. Dessa maneira, o resultado da TR fica nulo, tendo em vista a impossibilidade de ser negativa.
Para que a Taxa Referencial volte a ser positiva, é preciso que os juros pagos pelos títulos públicos também aumentem. Como não há previsão para esse cenário, não é possível definir se a taxa voltará a ser positiva.
Depois de conhecer esses detalhes sobre a TR, as taxas de juros e suas influências nos investimentos, você pode estar se perguntando como ter uma boa rentabilidade. Nesse momento, é preciso entender que os investimentos devem, pelo menos, acompanhar a inflação.
Assim, você mantém o poder de compra e evita a corrosão do seu patrimônio com o tempo. Para isso, existem diversas alternativas — e escolher entre elas depende de certos fatores. Os principais são o perfil de investidor e os objetivos financeiros.
O perfil de investidor diz respeito à maneira como você lida com os riscos atrelados aos investimentos. Afinal, apesar de existirem aportes mais seguros que outros, todos eles estão sujeitos a riscos diferentes e em diversos patamares.
Também considere os seus objetivos — qual é a sua finalidade ao fazer determinado aporte? Muitos investimentos não têm relação, diretamente, com a alta rentabilidade. Quem deseja compor uma reserva de emergência, por exemplo, precisa optar por aportes seguros e líquidos.
No entanto, se seu objetivo é potencializar a rentabilidade de investimentos, é possível diversificar suas escolhas. Por exemplo, a renda variável expõe o investidor a maiores riscos, mas não limita os ganhos que podem ser obtidos.
Seja qual for seu perfil e estratégia, o ideal é contar com um banco de investimentos que proporcione diversas alternativas e buscar o auxílio de uma assessoria. Assim, você conhecerá as alternativas que fazem sentido para sua carteira.
A TR é uma taxa de juros criada nos anos 1990 para atualizar a moeda brasileira e conter a hiperinflação da época. Apesar de não servir mais a esse propósito, ela ainda é presente para os brasileiros.
Nesse sentido, ela pode influenciar nos juros da poupança, em títulos do Tesouro Nacional, no FGTS dos trabalhadores, nos financiamentos e títulos de capitalização. Então é válido acompanhar suas variações e resultados para aplicá-los na sua organização e planejamento financeiro.
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